Vamos falar de episiotomia?
A episiotomia é uma incisão efetuada na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal de parto e prevenir que ocorra um rasgamento irregular durante a passagem do bebê. É geralmente realizada com anestesia local. (Wikipedia)
A definição em si já é equivocada. Prevenir o quê? Digam para mim. Achismo não me conforta. Quando ocorre uma laceração natural, grande parte não chega nem aos pés de uma episio.
Esquentou os ânimos? Vamos aos motivos.
1. Mutilação
Sim, “o pique inocente” é uma mutilação da vagina da mulher. O corte é uma lesão perineal grave. Alguns bons pontos são necessários para recompor a coisa toda.
“…quando realizada sem indicação constitui uma verdadeira mutilação genital feminina, acarretando danos à saúde da mulher.” Wagner M. Episiotomy: a form of genital mutilation. Lancet. 1999;353:1977-8
As evidências científicas atuais não indicam que ela seja feita de rotina, bem como a OMS.
Dra. Melania Amorim, conforme abaixo, demonstrou seus resultados após 13 anos sem realizar NENHUMA episiotomia.
Veja Estudando episiotomia e Série vídeos número 1: episiotomia em seu blog. Recomendo a leitura fortemente.
2. Dor e incômodo no pós-parto
A episio gera maior desconforto e dor.
Muitas mulheres que sofreram o procedimento relataram forte incômodo no pós-parto, e obviamente, o risco de infecção está associado. Quanta dor e trauma não seriam evitados se a episiotomia não fosse feita? Quantos períneos íntegros poderíamos ter? Muitos, muitos, muitos. E a frase “lavou tá novo”, faz todo sentido nesse caso.
3. Não está associada a nenhum benefício
Sim, não há nenhum benefício comprovado cientificamente pelo uso desse procedimento.
“Em revisão sistemática publicada em 2005, Hartmann et al. avaliaram 26 artigos de 986 estudos rastreados em pesquisa no Medline, na Biblioteca Cochrane e no Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature.Os autores concluíram que a episiotomia não apresentava quaisquer benefícios, associando-se a danos consideráveis como dor, maior necessidade de analgésicos e lacerações perineais graves. Na Discussão, comentam que “na ausência de benefícios e com um potencial para malefícios, um procedimento deveria ser abandonado” 42: Sugerem que uma meta razoável e imediata seria reduzir a taxa de episiotomias para menos de 15%…” Hartmann K, Viswanathan M, Palmieri R, Gartlehner G, Thorp J, Lohr KN. Outcomes of Routine Episiotomy – A Systematic Review. JAMA. 2005; 293: 1-8.
A citação fala por si só. Se algo não traz benefícios comprovados, qual a necessidade? Baseado em boas evidências, gostaria de uma resposta daqueles que a fazem de rotina.
4. Não deve ser feito sem consentimento da mulher
Há muitos relatos dizendo que “foi feito sem meu consentimento”. Qualquer conduta médica no parto deve ser discutida com a parturiente. Ela tem o direito de escolher. Eu mesma, durante início da minha gestação, sondei a minha médica à época, e escutei horrores dela. Após escutar tudo, respondi: “Dra., mas veja bem, as evidências dizem x y z, e a senhora não me mostrou absolutamente nenhum motivo plausível baseado em nada para a episiotomia” . Nem preciso dizer que quase fui jogada pela janela e não voltei nunca mais.
Vamos tentar mudar isso? Que tal levar evidências para discussão? Medicina baseada em vidência está cheio por aí. E muito cuidado se você escutar: “Olha, se for necessário eu vou fazer…” .
Discuta, reflita, estude. Se após isso você achar que deve ser feito, ok, escolha sua. Meu respeito. Seu corpo, suas regras.
5. O ponto do marido (isso “non ecziste”)
Não vou nem entrar no mérito do machismo, vou pular esta parte porque me dá até coceira. Dizer que se não fizer episio, a vagina ficará larga e o playground do maridão vai estragar, dói, dói na alma. Feminismo pra quê né gente?
Após o parto a vagina volta ao seu normal, sem a menor necessidade de “ponto do marido”, ponto a mais dado durante a episiorrafia (sutura do corte). Ela é constituída de músculos e como tal, tem elasticidade. Por um acaso alguém já fez alongamento e depois saiu por ai todo “largo”? Não né. Por qual motivo isso aconteceria justamente com nossa amiga vagina?
O resumo disso é: estudem e questionem. O parto é seu!
Respeito à fisiologia, respeito à mulher, respeito ao bebê.